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Política: descrença e esperança. Qual será a próxima denúncia ou o próximo escândalo?

Na esquina do pensamento de hoje quero conversar com você sobre a crise política que estamos passando. Quero te pedir licença e paciência para tratar desse tema delicado, tenso, mas fundamental para nosso país e, em especial, para o futuro das nossas crianças.



Imagina a política como uma grande engrenagem. Um grande motor. Esse motor é alimentado, como dizia Bourdieu, por dois combustíveis: crença e o reconhecimento. Preciso acreditar que alguns problemas têm solução e reconhecer que determinadas pessoas possuem o desejo e as condições para resolver esses problemas.


Mas existe uma relação imbricada entre o motor e o combustível – quanto melhor funciona o motor, mais crença e reconhecimento (combustível) ele recebe.


E o contrário também é verdadeiro, quanto pior funciona o motor, menos combustível ele recebe. Sendo esvaziado de combustível, a política perde sua força de organização do espaço comum. É a ruptura entre o poder a política indicada pela Bauman, ou seja, a política esvaziada de poder. A forma que organizamos a política atualmente não dá conta de responder aos nossos desafios. Isso não quer dizer que os problemas deixarão de existir, pelo contrário, eles tendem aumentar e serem decididos na esfera particular, cada um se virando, algo como a “lei do mais forte”.

Esse esvaziamento da política é tão claro que o principal mote para um candidato ganhar uma eleição hoje em nosso país é falar que não é político. Isso é muito sério. É uma manipulação da nossa decepção, da nossa descrença.

Deixa eu te falar como eu consigo perceber essa dinâmica da descrença no nosso caso. A ação política no brasil, de maneira geral é feita como um negócio particular ou de pequenos grupos, mas a cena dessa mesma ação nos é apresentada como uma ação pública, republicana, preocupada com o bem comum.

Fazer negócio não é ruim. Na verdade, é fundamental para nossa sociedade, mas o lugar do negócio não é a política. Ou seja, imagina uma peça de teatro onde os atores e atrizes encenam uma coisa no palco e vivem outra coisa nos bastidores. No caso do teatro não é um problema, é o esperado. No caso da política afeta a nossa crença e o nosso reconhecimento. A espetacularização da política esvazia a política de força. Quanto maior a teatralização maior o risco do desencanto, mas a teatralização tem sido o recurso para garantir nossos votos.

Por isso tanto dinheiro investido em propaganda e a transformação de políticos em atores e atrizes. E é por isso também que a cobertura da impressa de maneira espetacularização em nada ajuda. Transformar a política numa novela, numa comédia ou numa tragédia.

A política não pode ser esse lugar dos profissionais de negócios, existe um outro lugar para esses profissionais. A política é o espaço para cuidar do bem comum e podemos possuir entendimentos diferentes sobre esse cuidado. Isso não é o problema e a disputa deveria acontecer em função dessas diferenças.

Olha só, na origem da palavra política está polis que quer dizer cidade, o lugar comum, a casa comum. O Rubem Alves escreveu um pequeno texto sobre política. Para ele a boa política é “a arte da jardinagem aplicada às coisas públicas”. Você deve estar achando essa prosa muito inocente, mas quero te dizer uma coisinha, com todo carinho, inocência é achar que basta cuidar do jardim na nossa casa, da janela do nosso apartamento ou do nosso condomínio. Se for assim viveremos numa casa com jardim cercada de um grande e perigoso deserto. Pensa um pouco nisso.

Um grande abraço!


Autor: Ricardo Mariz

Doutor em Sociologia, Mestre em Educação e Pedagogo. Membro do Grupo de Pesquisa Diálogos em Sociologia Clínica da Universidade de Brasília. Conselheiro do Movimento de Educação da Base da CNBB. Atuou na docência e gestão da educação básica, foi Pró-Reitor de Graduação, Pró-Reitor de Extensão e Reitor pro tempore da Universidade Católica de Brasília. Membro fundador do Grupo de Pesquisa “Cartografias dos Territórios de Aprendizagem”, financiado pelo CNPQ; Membro fundador do projeto “Esquina do Pensamento”. Autor de artigos e livros sobre educação.

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