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Um pouco mais sobre Paulo Freire. Suas ideias ainda são importantes?

Em maio de 2017 completou 20 anos da morte de Paulo Freire. Suas ideias ainda são importantes? Podem nos ajudar ou atrapalham a educação e o nosso país?



Na Esquina do Pensamento de hoje vamos conversar um pouco sobre o Paulo Freire. Nos últimos anos tenho acompanhado acalorados debates que envolvem seu nome e suas ideias. Na verdade quase todo debate hoje em dia ganha um tom acalorado, de vida ou morte. Já que nossa conversa de hoje envolve o tema da educação quero partilhar com você um método pedagógico – é o método do mingau quente. Você deve saber que um jeito seguro de tomar um mingau quente é espalhar num prato e tomar com calma e pelas beiradas, circulando e caminhando para o centro. Com calma!

Então vamos ao mingau: Paulo Freire não é uma unanimidade e nunca desejou isso. Fundamentou grande parte da sua obra na ideia do diálogo e do esforço que devemos fazer para pensar uma determinada situação do lugar do outro, enxergar uma determinada situação do ponto de vista do outro. Para ele esse é o ponto de partida de todo processo educativo:


não é o que você deveria saber, mas o que você sabe, o que você considera, que crenças sustentam o que você sabe.

Podemos discordar das ideias do Freire, discordar de sua trajetória e prioridades, mas parece-me um erro importante ignorar suas ideias.

Olha só, algumas curiosidades para quem gosta de números: o Freire recebeu 27 títulos de Doutor Honoris Causa em Universidades de diversos continentes pelo mundo afora, em 2016 fizeram um levantamento que coletou mais de um milhão de programas de estudos nas universidades de língua inglesa no mundo. O único livro brasileiro que aparece na lista dos 100 primeiros é o Pedagogia do Oprimido, que foi traduzido em mais de 40 línguas. No mesmo ano de 2016 um outro levantamento constatou que o Freire era o terceiro autor mais citado no mundo, foram 72.359 citações em outros trabalhos. Esses números não significam que você deve concordar com o Freire, sua perspectiva de educação e da própria vida. Eles só revelam que o pensamento dele é importante. Não é algo que pode ser colocado de qualquer forma num post do face ou reduzido a uma frase de efeito numa camiseta.

A Vera Barreto que conviveu muito com o Freire, contava que na última viagem que o Freire fez aos Estados Unidos antes de morrer, ele foi a um encontro com amigos na casa de um jornalista brasileiro. Lá uma jornalista dos Estados Unidos perguntou para ele: qual era a qualidade que ele considerava fundamental num educador?”. Freire de pronto respondeu: a maior qualidade de um educador é gostar da vida! Olha que interessante: a maior qualidade de um educador é gostar da vida! Eu penso assim: para o Freire o gosto pela vida e a potencialidade humana de aprender, que todos nós temos, transforma a nossa capacidade de adaptação em capacidade de transformação. Por isso que ele acreditava que a educação tinha uma força transformadora. Para ele a educação não pode de mudar o mundo, mas pode mudar as pessoas, que podem mudar o mundo.

As ideias educacionais do Freire estão fundamentadas numa curiosidade esperançosa na capacidade de aprender do outro. Não é uma curiosidade qualquer, mas uma curiosidade no saber do outro para que esse outro aprenda mais, mais e mais. E que esse aprendizado ajude na transformação e melhoria da realidade. Penso que esse é o centro mingau quente. Bom apetite!

Abraços e até a próxima esquina.


Autor: Ricardo Mariz

Doutor em Sociologia, Mestre em Educação e Pedagogo. Membro do Grupo de Pesquisa Diálogos em Sociologia Clínica da Universidade de Brasília. Conselheiro do Movimento de Educação da Base da CNBB. Atuou na docência e gestão da educação básica, foi Pró-Reitor de Graduação, Pró-Reitor de Extensão e Reitor pro tempore da Universidade Católica de Brasília. Membro fundador do Grupo de Pesquisa “Cartografias dos Territórios de Aprendizagem”, financiado pelo CNPQ; Membro fundador do projeto “Esquina do Pensamento”. Autor de artigos e livros sobre educação.

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